domingo, 13 de setembro de 2009

Carismas no Ministério de Cura


"A grande graça que Deus concedeu à sua Igreja neste fim do segundo milênio foi a abundância do dom do Espírito Santo. A atualidade da presença operante do Espírito santo se manifesta no vigor exuberante da Renovação Carismática...É realmente uma autêntica renovação pessoal e social. O Novo Catecismo da Igreja Católica recorda várias vezes a redescoberta dos carismas e a renovação do Pentecostes na Igreja de hoje:‘ O Espírito Santo é o Princípio de toda ação vital verdadeiramente salutar em cada uma das diversas partes do Corpo. Ele opera de múltiplas maneiras a edificação do Corpo inteiro na caridade: pela Palavra de Deus(...) pelas virtudes que fazem agir segundo o bem, enfim pelas múltiplas graças especiais (chamadas carismas), através das quais torna os fiéis aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para a renovação e maior incremento da Igreja’ (Novo Catecismo, parágrafo 798).

‘ Eles são uma maravilhosa riqueza da graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo...(NC, parágrafo 800).
"Os carismas, além de serem dons que o Espírito Santo nos concede para nos associar à sua obra, para nos tornar capazes de colaborar com a salvação dos outros e com o crescimento do Corpo de Cristo, a Igreja, manifestam também a força da graça do Cristo ressuscitado " (NC, parágrafo 2003 e 1508).

Os carismas são diversos. São Paulo faz uma lista de vários. Porém, não significa dizer que todos os carismas possíveis já teriam sido enumerados no Novo Testamento e que o Espírito Santo deveria limitar-se hoje a distribuir os dons que já teriam sido concedidos nos tempos apostólicos. Ora, o Espírito que é a vida da igreja, cada dia, procede do Pai e do /filho para dar novos dons que permitam fazer face, em cada época, às novas necessidades da Igreja, com a liberdade soberana da qual ela dispõe." (D. João Evangelista Martins Terra, SJ - " Os Carismas em São Paulo" - Ed. Loyola - pg 12).

O ministro de cura, necessita dos carismas para exercer sua missão. Eles são como que as ferramentas através das quais, Deus realiza sua obra salvífica no meio do seu povo. Os carismas manifestam a presença de Jesus ressuscitado entre nós, salvando, curando e libertando os homens (Lc 4,18 ss).

" O carisma, é portanto, uma ação manifesta da pessoa do Espírito Santo. É uma operação do Espírito...Não é uma coisa, que quando dada, torna-se ‘propriedade privada’ de quem o recebe, e da qual ele pode fazer uso como queira, quando queira, sem mais qualquer vínculo ou relação com o Doador. A manifestação da presença e da força do carisma depende, sempre, da manifestação imediata do próprio Espírito", que age como quer e quando quer.(Pe. Alírio Pedrini SCJ - "Carismas para o nosso tempo".

Sabemos, porem, que Deus quer se manifestar ao seu povo, pois é Ele que procura o homem para salva-lo. O próprio Jesus nos diz no evangelho que o Pai dará o Espírito Santo aos que lho pedirem.

É necessário e essencial pedir ao Senhor a força e o poder do Espírito Santo para exercermos o nosso ministério na Igreja, seja ele qual for. Deus quer dar seus dons aos seus filhos, mas precisamos pedir incessantemente, como nos ordenou Jesus: "pedí e dar-se-vos-á".

"Seja feito segundo a tua fé", nos disse Jesus. Por isso, é fundamental cultivarmos essa postura de fé incondicional, na certeza e confiança de que Deus responde aos que lhe invocam e realiza neles e através deles os seus desígnios de amor." Os carismas não são um sinal de santidade daquele que os recebeu. Seria um erro formar uma convicção de que aquele que é portador de carisma é santo e tenha recebido os carismas por recompensa por sua santidade pessoal. Outro erro é imaginar que só pessoas mais adiantadas na vida espiritual possam receber ou recebem de fato os carismas. Sendo capacitações sobrenaturais para o serviço apostólico, o Espírito dá-los , efetivamente, também a fiéis que , embora imperfeitos, carregando a cruz da fraqueza, da miséria humana, de defeitos e pecados, se dispõem a servir com boa vontade aos irmãos, na comunidade.

Por isso, é fundamental, termos em mente, o que nos diz S. Paulo, sobre a excelência da caridade, em função da qual todos os outros carismas ganham sentido e, sem ela, poderíamos dizer, são vazios e se acabarão. Assim, quanto mais abrirmos o nosso coração à caridade fraterna e buscarmos concretiza-la no serviço ao outro, tanto mais o Espírito Santo nos usará com os seus dons para a construção do Reino.

É muito importante que os ministros de cura tenham um conhecimento básico sobre os carismas e o exercício dos mesmos no seu ministério, pois o conhecimento abre fronteiras e, com certeza, nos tornará mais dóceis à ação do Espírito Santo. Para isso, sugerimos a leitura e o estudo de livros que tratem mais especificamente deste assunto, como os citados na bibliografia desta apostila.

Enfim, transcrevemos as palavras do santo padre o Papa Paulo VI, que nos anima a buscarmos a "força" e o "poder do alto" para o nosso apostolado:
"A Igreja tem necessidade de um perene Pentecostes; necessita do fogo no coração, da palavra nos lábios, de profecia no olhar. A Igreja necessita ser templo do Espírito Santo, isto é, de total limpeza e de vida interior; necessita voltar a sentir dentro de si, em nosso mundo vazio, de homens modernos, totalmente extrovertidos pelo encantamento de vida exterior, sedutora, fascinante, que corrompe com lisonjas de falsa felicidade, necessita voltar a sentir, repetimos, como que elevar-se do profundo de sua personalidade íntima um pranto, uma poesia, uma prece, um hino, isto é, a voz orante do Espírito que, como ensina S. Paulo, ocupa o nosso lugar e ora em nós e por nós com ‘gemidos inenarráveis’ e interpreta as palavras que nós sozinhos não saberíamos dirigir a Deus.

Homens de hoje, jovens, almas consagradas, irmãos no sacerdócio! Vós nos escutais!? A Igreja tem necessidade disto. Tem necessidade do Espírito Santo. Do Espírito Santo em nós, em cada um de nós, em todos nós juntos, em nós Igreja. (RCC - "Carismas" - Ed. Santuário - pg.87).

sábado, 5 de setembro de 2009

Maturidade na oração


Quem somos nós para achar que a nossa oração vai ser uma coisa fácil?

Como deve ser a nossa oração? Vamos examinar a nossa forma de orar para que a nossa oração seja eficaz e para que o poder de Deus se manifeste em nossas vidas. Orar com poder não quer dizer que eu seja poderoso, orar com poder é rezar de uma forma tal que deixemos de atrapalhar Deus em fazer a Sua vontade em nossas vidas. Os discípulos de Jesus se aproximam do Senhor da mesma forma que nos aproximamos d'Ele hoje: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lucas 11, 1). Esse pedido nasceu da admiração deles ao verem o Mestre orando.

Jesus se fez homem para nos ensinar o que é ser humano. Não sabemos ser gente, ser humanos. Quando olhamos para o ser humano vemos uma tarefa, uma missão: realizar os sonhos de Deus em nossas vidas. É importante nos darmos conta de que fomos escolhidos por Deus, de que não viemos a este mundo por acaso e agora temos que dar conta da vida. Existe um sonho de Pai, um projeto de Deus para você. A nossa primeira atitude deve ser a de nos esforçarmos para nos adequar a esse projeto do Senhor.

Deus nos criou com uma missão, um projeto, e se fez homem para mostrar o que é ser homem, mas o projeto do Altíssimo em nós está deturpado por causa do pecado original.

Jesus vem se mostrar como ser humano completo. Como ser humano completo, pessoa divina, Ele reza. Só o Evangelho de Lucas nos mostra nove momentos nos quais Cristo estava orando. Sua oração devia ser fascinante, os discípulos se deram conta de que não sabiam como fazer e pediram a Ele que os ensinasse a orar.

Jesus ensina o Pai-Nosso, em duas passagens, mas em Lucas 11, 2, a oração está em uma forma mais abreviada: “Quando orardes dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino”. Aqui já acontece uma revolução, algo extraordinário: o Senhor nos ensina a orar ao Pai para realizarmos o Seu Reino, o reinado de Deus em nossa vida.

No início é um esforço humano, mas Deus nos visita e nos concede o dom, a graça de orar. Não somos nós, mas é Cristo que ora em nós pelo Seu Espírito. Para que isso aconteça é preciso a pregação a respeito do "kerigma", o primeiro anúncio do amor de Deus, da necessidade de renunciar ao pecado e buscar a conversão.

No Evangelho de Marcos, no Horto das Oliveiras, o Mestre também ora. “Não Seja feita a minha, mas a Tua vontade”. Essa é a característica da oração cristã: pedir que seja feita a vontade do Senhor. A oração pagã é diferente, as pessoas perguntam qual é a vontade delas e não a vontade de Deus Pai. Deus é o oleiro, que modela o barro, temos que parar de nos comportar como se fôssemos criadores. Jesus veio ao mundo para nos ensinar a fazer a vontade de Deus.

Um exemplo de oração pagã moderna é a oração baseada na lei da atração. Se desejamos as coisas boas elas acontecem, mas se desejamos coisas ruins, elas também acontecem. Isso é materialismo e paganismo disfarçados, são enganosos tais preceitos. Tantas pessoas morrendo de fome na África, será que essas pessoas não desejam comida?

Está faltando maturidade para compreender o que é a vida humana. Não podemos ser infantis e achar que a nossa vontade é o melhor para nós. Enquanto os pagãos são como os profetas de baal, que clamam por aquilo que desejam; o cristão expressa o desejo de fazer a vontade de Deus. Muitas vezes fazer a vontade de Deus é um verdadeiro parto, mas é a melhor coisa para nós. Se Jesus, nosso Mestre e Senhor, suou Sangue no Horto das Oliveiras, quem somos nós para achar que a nossa oração vai ser uma coisa fácil! Mesmo que a vontade do Altíssimo nos assuste, mesmo que vejamos uma cruz, sabemos que por trás dela, Deus tem uma ressureição para nós. Nós estamos prontos para fazer a vontade do Senhor. Não se trata de fazer a nossa vontade, mas de colocar nosso coração em sintonia com a vontade de Deus.


Padre Paulo Ricardo